De forma a partilhar algo mais private, um texto que escrevi há uns tempos, a propósito do valor que damos ao amor, cujo tema serve como inspiração.

Espero que gostem :)

E se o amor se pudesse comprar? De forma rápida e instantânea a baixo custo, sem necessidade de passar factura, assim como se compra uma revista cor-de-rosa ou um par de meias azuis. E se o amor estivesse à nossa espera numa montra qualquer de uma loja qualquer à espera de o levarmos para casa?

Era tão bom que existisse amor à venda, assim não existiriam pessoas infelizes, casamentos nem divórcios, pessoas frustradas a descarregar a frustração nos outros. Era tão bom, não termos de nos preocupar em arranjar alguém que nos faça feliz sem pedir nada em troca. Era tão bom que quando estivéssemos em baixo, fossemos comprar um bocado de amor e ficássemos logo bem. Felizes, como convém. Até o trabalho correria melhor, porque sabíamos que teríamos o amor à nossa espera em casa, certos de que não iria a lado nenhum, porque o tínhamos comprado só para nós, sem direito a partilha. E era tão bom, que na loja pudéssemos escolher exactamente o amor mais adequado para nós, mais sensível ou menos sensível, mais atento ou menos atento, mais carinhoso ou menos carinhoso. E ainda assim, seria o nosso amor, porque fomos nós que o escolhemos. E era mesmo bom, de acordo com os dias, poder escolher a dose de amor que pretendíamos, como quem selecciona  a dose de café. O problema mesmo, seria quando já não quiséssemos esse amor, o que faríamos? Deitávamos para o lixo comum ou para a reciclagem? E se toda a gente começasse a deitar o seu amor para o lixo, porque já não servia mais para si e queria o amor mais recente do mercado, com mais funcionalidades e mais Xpto? Era começar a ver montes de amor espalhado pelas ruas, junto aos contentores de tão cheios. E depois a solução mesmo seria passar a reciclar amor, porque já não haveria matéria-prima que chegasse para tantas necessidades diferentes: falta de atenção, falta de tempo, falta de afecto, divergências de opinião, traições, relações abertas ou relações complicadas. E um dia o amor passaria a ter rótulo de matéria perigosa e de prazo de validade.